quinta-feira, 3 de março de 2011


MITO & FILOSOFIA     &     FILOSOFIA & MITO

A filosofia nasceu realizando uma transformação gradual nos mitos grego ou nasceu por uma ruptura radical com os mitos?
Duas foram às respostas dadas:
           
A primeira delas foi dada nos fins do século XIX e começo do século XX, quando reinava um grande otimismo com relação aos poderes científicos e capacidade técnicas do homem. Dizia-se, então, que a filosofia teria nascido por uma ruptura radical com os mitos, sendo a primeira explicação científica da realidade produzida pelo Ocidente.
A segunda resposta foi dada a partir de meados do século XX, quando os estudos dos antropólogos e dos historiadores mostraram a importância dos mitos na organização social e cultural das sociedades e como os mitos estão profundamente entranhados nos modos de pensar e de sentir de uma sociedade. Por isso, dizia-se que os gregos, como qualquer outro povo, acreditavam em seus mitos e que a Filosofia nasceu, vagarosa e gradualmente, dos próprios mitos, como racionalização deles.
Atualmente, consideram-se as duas respostas exageradas e afirma-se que Filosofia, percebendo as contradições e limitações dos mitos, foi reformulando e racionalizando as narrativas míticas, transformando-as numa outra coisa, numa explicação inteiramente nova e diferente.

Quais são as diferenças entre filosofia e mito?
Podemos apontar três como as mais importantes:

1 – O mito pretendia narrar como as coisas eram ou tinham no passado imemorial, longínquo e fabuloso, voltando-se para o que era antes que tudo existisse tal como existe no presente. A Filosofia, ao contrario, se preocupa em explicar como e por que, no passado, no presente e no futuro (isto é, na totalidade do tempo), as coisas são como são.

2 – O Mito narrava a origem por meio de genealogia e rivalidades ou alianças entre forças divinas sobrenaturais e personalidades, enquanto a Filosofia, ao contrário, explica a produção natural das coisas por elementos naturais primordiais (esses elementos são: água ou úmido, fogo ou quente, ar ou frio, e terra ou seco) por meio de causa naturais e impessoais (ações e movimentos de combinações, composição e separação entre os quatros elementos primordiais).
Assim, por exemplo, o mito falava nos deuses Urano, Ponto e Gaia; a Filosofia fala em céu, mar e terra. O mito narrava origem dos seres celestes (os astros), terrestres (plantas, animais, homens) e marinhos pelos casamentos de Gaia com Urano e Ponto. A Filosofia explica o surgimento do céu, do mar e da terra e dos seres que neles vivem explicando os movimentos e ações de composição, combinação e separação dos quatro elementos – úmido e seco, quente e frio.

3 – O mito não se importava com contradições, com o fabuloso e o incompreensível, não só porque esses eram traços próprios da narrativa mítica, não só porque esses eram traços próprios da narrativa mítica, como também porque a confiança e a crença no mito vinham da autoridade religiosa do narrador. A Filosofia, ao contrário, não admite contradições, fabulações e coisa incompreensíveis, mas exige que a explicação seja coerente, lógica e racional; além disso, a autoridade da explicação não vem da pessoa do filósofo, mas da razão, que é a mesma em todos os seres humanos.

Bibliografias Consultadas:

CHAUÍ, Marilena. Introdução à Filosofia. Ed; Companhia das Letras. 13° ed. São Paulo. 2003.  p. 36-37.

O INÍCIO DA FILOSOFIA


O Início da Filosofia Grega

            A filosofia terá, no correr dos séculos, um conjunto de preocupações, indagações e interesse que lhe vieram de seu nascimento na Grécia.
            Assim, antes devermos que campos são esses, examine brevemente os conteúdos que a Filosofia possuía na Grécia. Para isso, devemos primeiro, conhecer os períodos definiram os campos da investigação filosófica na antiguidade.
            Os quadros grandes períodos da filosofia grega, nas quais seu conteúdo muda e se enriquece, são:
1° Período Pré-Socrático ou Cosmológico
No final do séc. VII ao final do séc. V a.C, quando a filosofia se ocupa fundamentalmente com a origem do mundo e as causas das transformações na natureza.

2° Período Socrático ou Antropológico
Do final do séc. V e todo o séc. IV a.C, quando a filosofia investiga as questões humanas, isto é, a ética,  a política e as técnicas (em grego, ântropos, quer dizer homem; e por isso o período recebeu o nome de antropológico)

3° Período Sistemático
Do final do séc. IV ao final do séc. III a.C, quando a filosofia busca reunir e sistematizar tudo quanto foi pensado sobre a cosmologia e antropologia, interessando-se sobretudo em mostrar que tudo pode ser objeto do conhecimento filosófico, desde que as leis do pensamento e de suas demonstrações estejam firmemente estabelecidas para oferecer os critérios da verdade e da ciência.      

4° Período Helenístico ou Grego-romano
Do final do séc. II a.C até o séc. VI depois de cristo. Nesse longo período que já alcança Roma e o pensamento dos primeiros padres da Igreja, a filosofia se ocupa, sobretudo com as questões da ética, do conhecimento humano e das e relações entre o homem e a natura e de ambos com Deus.

Fonte: CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. Ed; Ática. 12° ed. São Paulo. 2002.  p. 34.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Condições Históricas do Nascimento da Filosofia

Condições Históricas do Nascimento da Filosofia

Resta-nos, agora, compreender o que tornou possível o nascimento da filosofia na Grécia, isto é, as condições materiais ou condições históricas (econômicas, sociais e políticas) que tornaram possível o surgimento desse tipo de pensamento, único até então. Por que, no século VI a.C, nas colônias da Ásia Menor e, mais precisamente, na Jônia, nasceu à filosofia?
            Muito têm sido as explicações das causas históricas para a origem da filosofia na Jônia. Alguns consideram que as navegações e as transformações técnicas tiveram o poder de desencantar o mundo e forçar o surgimento de explicações racionais sobre a realidade. Outros enfatizam a inversão do calendário (tempo abstrato), da moeda (signo abstrato para ação de troca) e da escrita alfabética (transcrição abstrata da palavra e do pensamento), que teriam proporcionando o desenvolvimento da capacidade de abstração dos gregos, abrindo caminho para a filosofia. Sem duvida, esses fatores foram importantes e não podem ser desconsiderados nem minimizados, mas não foram os principais. A principal determinação histórica para o nascimento da filosofia é a Política: o nascimento, simultâneo a ela, da Cidade – Estado, isto é, pólis, pois, com esta, desaparece a figura que foi a do antecessor do filósofo, o Mestre da Verdade (o poeta [o aedo, como Homero], o adivinho [mago ou o profeta] e o rei-de-justiça [o sábio] são personagens reais que têm em comum o do da vidência para além da aparência sensível ou imediata das coisas).
A filosofia nasce, portanto, no contexto da pólis e da existência de um discurso (logos) público, dialogal, compartilhado, decisional, feito na troca de opiniões e na capacidade para encontrar e desenvolver argumentos que persuadam os outros e os façam aceitar como válida e correta a opinião emitida, ou rejeitá-la se houver fraqueza dos argumentos.
Exercício do pensamento e da linguagem, a filosofia irá diferenciar-se da palavra dos guerreiros e dos políticos porque possui uma pretensão especifica herdada dos poetas, do adivinho e do rei-de-justiça; não deseja apenas argumentar e persuadir, mas pretende proferir a verdade como aquilo que é o mesmo para todos, porque, em todos os pensamentos é idêntico, se for desinteressado.










Fonte: CHAUÍ, Marilena. Introdução à Filosofia. Ed; Companhia das Letras. 2° ed. São Paulo. 2003.  p. 40-42.

O que perguntavam os primeiros Filósofos?

O que perguntavam os primeiros Filósofos?

A palavra Filosofia:
            Por que os seres nascem e morrem? Por que os semelhantes dão origem aos semelhantes, de uma árvore nasce outra árvore, de um cão nasce outro cão, de um  mulher nasce uma criança? Por que os diferentes também parecem fazer surgir os diferentes: o dia parece fazer nascer a noite, o inverno parece fazer surgir a primavera, um objeto escuro clareia com o passar do tempo, um objeto claro escurece com o passar do tempo.
Por que tudo muda? A criança se torna adulta, amadurece, envelhece e desaparece. A paisagem, cheia de flores na primavera, vai perdendo o verde e as cores no outono até ressecar-se e retorcer-se no inverno. Por que um dia luminoso e ensolarado, de céu azul e brisa suave, repentinamente, se torna sombrio, coberto de nuvens, varrido por ventos furiosos, tomado pela tempestade, pelos raios e trovoes?
Por que a doenaça invade os corpos, rouba-lhes a cor, a força? Por que o alimento que antes me agradava, agora, que estou doente, me causa repugnância? Por que o som da música que antes me embalava, agora, que estou doente, parece um ruído insuportável?
Por que nada permanece idêntico a si mesmo? De onde vêm os seres? Para onde vão, quando desaparecem?  Por que se transformam? Por que se diferenciam uns dois outros?
Foram perguntas como estas que os primeiros filósofos fizeram e para elas buscaram respostas.
Sem dúvida, a religião, as tradições e os mitos explicavam todas essas coisas, mas suas explicações já não satisfaziam aos que interrogavam sobre as causas da mudança, da permanência, da repetição, da desaparição e do ressurgimento de todos os seres. Haviam perdido força explicativas, não convenciam nem satisfaziam a quem desejava conhecer sobre o mundo.

Fonte: CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. Ed; Ática. 13° ed. São Paulo. 2005.  p. 32.