domingo, 27 de fevereiro de 2011

Condições Históricas do Nascimento da Filosofia

Condições Históricas do Nascimento da Filosofia

Resta-nos, agora, compreender o que tornou possível o nascimento da filosofia na Grécia, isto é, as condições materiais ou condições históricas (econômicas, sociais e políticas) que tornaram possível o surgimento desse tipo de pensamento, único até então. Por que, no século VI a.C, nas colônias da Ásia Menor e, mais precisamente, na Jônia, nasceu à filosofia?
            Muito têm sido as explicações das causas históricas para a origem da filosofia na Jônia. Alguns consideram que as navegações e as transformações técnicas tiveram o poder de desencantar o mundo e forçar o surgimento de explicações racionais sobre a realidade. Outros enfatizam a inversão do calendário (tempo abstrato), da moeda (signo abstrato para ação de troca) e da escrita alfabética (transcrição abstrata da palavra e do pensamento), que teriam proporcionando o desenvolvimento da capacidade de abstração dos gregos, abrindo caminho para a filosofia. Sem duvida, esses fatores foram importantes e não podem ser desconsiderados nem minimizados, mas não foram os principais. A principal determinação histórica para o nascimento da filosofia é a Política: o nascimento, simultâneo a ela, da Cidade – Estado, isto é, pólis, pois, com esta, desaparece a figura que foi a do antecessor do filósofo, o Mestre da Verdade (o poeta [o aedo, como Homero], o adivinho [mago ou o profeta] e o rei-de-justiça [o sábio] são personagens reais que têm em comum o do da vidência para além da aparência sensível ou imediata das coisas).
A filosofia nasce, portanto, no contexto da pólis e da existência de um discurso (logos) público, dialogal, compartilhado, decisional, feito na troca de opiniões e na capacidade para encontrar e desenvolver argumentos que persuadam os outros e os façam aceitar como válida e correta a opinião emitida, ou rejeitá-la se houver fraqueza dos argumentos.
Exercício do pensamento e da linguagem, a filosofia irá diferenciar-se da palavra dos guerreiros e dos políticos porque possui uma pretensão especifica herdada dos poetas, do adivinho e do rei-de-justiça; não deseja apenas argumentar e persuadir, mas pretende proferir a verdade como aquilo que é o mesmo para todos, porque, em todos os pensamentos é idêntico, se for desinteressado.










Fonte: CHAUÍ, Marilena. Introdução à Filosofia. Ed; Companhia das Letras. 2° ed. São Paulo. 2003.  p. 40-42.

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