A filosofia nasceu realizando uma transformação gradual nos mitos grego ou nasceu por uma ruptura radical com os mitos?
Duas foram às respostas dadas:
A primeira delas foi dada nos fins do século XIX e começo do século XX, quando reinava um grande otimismo com relação aos poderes científicos e capacidade técnicas do homem. Dizia-se, então, que a filosofia teria nascido por uma ruptura radical com os mitos, sendo a primeira explicação científica da realidade produzida pelo Ocidente.
A segunda resposta foi dada a partir de meados do século XX, quando os estudos dos antropólogos e dos historiadores mostraram a importância dos mitos na organização social e cultural das sociedades e como os mitos estão profundamente entranhados nos modos de pensar e de sentir de uma sociedade. Por isso, dizia-se que os gregos, como qualquer outro povo, acreditavam em seus mitos e que a Filosofia nasceu, vagarosa e gradualmente, dos próprios mitos, como racionalização deles.
Atualmente, consideram-se as duas respostas exageradas e afirma-se que Filosofia, percebendo as contradições e limitações dos mitos, foi reformulando e racionalizando as narrativas míticas, transformando-as numa outra coisa, numa explicação inteiramente nova e diferente.
Quais são as diferenças entre filosofia e mito?
Podemos apontar três como as mais importantes:
1 – O mito pretendia narrar como as coisas eram ou tinham no passado imemorial, longínquo e fabuloso, voltando-se para o que era antes que tudo existisse tal como existe no presente. A Filosofia, ao contrario, se preocupa em explicar como e por que, no passado, no presente e no futuro (isto é, na totalidade do tempo), as coisas são como são.
2 – O Mito narrava a origem por meio de genealogia e rivalidades ou alianças entre forças divinas sobrenaturais e personalidades, enquanto a Filosofia, ao contrário, explica a produção natural das coisas por elementos naturais primordiais (esses elementos são: água ou úmido, fogo ou quente, ar ou frio, e terra ou seco) por meio de causa naturais e impessoais (ações e movimentos de combinações, composição e separação entre os quatros elementos primordiais).
Assim, por exemplo, o mito falava nos deuses Urano, Ponto e Gaia; a Filosofia fala em céu, mar e terra. O mito narrava origem dos seres celestes (os astros), terrestres (plantas, animais, homens) e marinhos pelos casamentos de Gaia com Urano e Ponto. A Filosofia explica o surgimento do céu, do mar e da terra e dos seres que neles vivem explicando os movimentos e ações de composição, combinação e separação dos quatro elementos – úmido e seco, quente e frio.
3 – O mito não se importava com contradições, com o fabuloso e o incompreensível, não só porque esses eram traços próprios da narrativa mítica, não só porque esses eram traços próprios da narrativa mítica, como também porque a confiança e a crença no mito vinham da autoridade religiosa do narrador. A Filosofia, ao contrário, não admite contradições, fabulações e coisa incompreensíveis, mas exige que a explicação seja coerente, lógica e racional; além disso, a autoridade da explicação não vem da pessoa do filósofo, mas da razão, que é a mesma em todos os seres humanos.
Bibliografias Consultadas:
CHAUÍ, Marilena. Introdução à Filosofia. Ed; Companhia das Letras. 13° ed. São Paulo. 2003. p. 36-37.