Televisão
– a hora da qualidade
Carlos Alberto Di Franco
São Paulo (SP) - Os pontos de audiência
conquistados pelas emissoras de TV com a exibição de cenas de sexo e de
violência podem representar uma miragem para o mercado publicitário. O alerta
foi dado por uma pesquisa da Universidade americana (EUA).
O estudo detectou uma dupla ação das
chamadas “telas quentes”: ao mesmo tempo que atraem mais telespectadores, elas
inibem a memória do público na hora do intervalo comercial. Segundo o professor
Brad Bushman, coordenador da pesquisa Violence and Sex Impair Memory for
Television Ads (Violência e Sexo Prejudicam a Memória para Anúncios de
Televisão), “as propagandas veiculadas em programas sem sexo e sem violência, o
que chamamos de ‘neutros’, têm mais ‘recall’ do que os exibidos no intervalo de
filmes e seriados com esses elementos”.
A pesquisa constatou que telespectadores
dos programas neutros se lembram 67% mais dos comerciais exibidos durante a
programação do que aqueles que vêem programas com conteúdo violento e sexual. A
mesma sondagem feita 24 horas depois concluiu que telespectadores de programas
neutros se recordam 60% mais do que os outros. Conclusão: violência e sexo
certamente têm mais audiência, mas não vendem. Trata-se de um recurso antiético
e comercialmente incompetente.
O trabalho faz parte de um amplo estudo
de Bushman sobre a qualidade da programação. Na pesquisa anterior, o professor
concluiu que a repercussão social desses conteúdos não é apenas negativa para
anunciantes, mas para a sociedade. “A violência na TV contribui para o aumento
da violência e o sexo amplia as atitudes agressivas em relação ao amor, ao
próprio sexo e estimula a promiscuidade”, sublinha. O pesquisador acredita que
o resultado de seu estudo também deve promover uma revisão na percepção do
mercado publicitário, acostumado a valorizar os pontos no Ibope para anunciar.
“Isso é uma falácia. Mais do que uma grande audiência, o importante é que os
produtos sejam memorizados pelo público. E isso não ocorre”, conclui Bushman. Quer
dizer, programa de mulher pelada ou de violência gratuita pode produzir
descargas de adrenalina, mas não é o melhor espaço para a promoção de anúncios
publicitários.
A pesquisa do professor Bushman não é
inédita, mas é séria, fundamentada e completa. Vale, sem dúvida, uma reflexão.
Se quisermos uma TV de qualidade, precisamos separar o exercício da liberdade
de expressão da prática do entretenimento mundo-cão. Como salientou Arnaldo
Jabor, há uma liberdade de mercado que produz um ‘mercado da liberdade’. De
resto, mesmo que exista uma demanda de vulgaridade, deve-se aceder a ela?
Suponhamos que exista um público interessado em abuso sexual de crianças,
assassinatos ao vivo, crimes desse tipo. Nem por isso, a TV deveria ter
programas especializados em pedofilia e assassinatos. O mercado não é um juiz
inapelável. Não se deve atuar à margem dele, mas não se pode sobrevalorizá-lo.
Muita gente, dentro e fora da TV, está
empenhada na batalha da qualidade. A Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos
Deputados, por exemplo, está liderando um movimento contra a má qualidade da
programação das emissoras. Com o slogan “Quem financia a baixaria é contra a
cidadania”, Orlando Fantazzini, deputado federal (PT-SP) e presidente da
comissão, quer incentivar os consumidores a não comprarem produtos das empresas
que patrocinam esses programas. A idéia é criar uma espécie de selo de
qualidade. Os produtores e patrocinadores de programas de baixo nível são
informados a respeito da desqualificação dos seus programas. A falta de ética
pode pesar no bolso. É um bom começo. Democrático e legítimo. No próximo
dia 19 (N.E. 19/11/2004), em Curitiba, participarei com o deputado Fantazzini
de um debate sobre os rumos da TV brasileira. O evento será promovido pelo
Instituto de Ensino e Fomento – IEF ( www.ief.org.br). A discussão, aberta e
serena, trará, estou certo, uma contribuição positiva para a melhora da
qualidade ética da TV.
Vejamos televisão, mas não sejamos
teledependentes. E, sobretudo, cobremos qualidade. A programação piora quando o
exercício da cidadania encolhe. A TV não mudará com anacrônicos apelos ao
retorno da censura nem com o pessimismo amargo dos moralistas de sempre.
Melhorará, sim, com a crítica racional, fundamentada e bem-intencionada dos que
estão de bem com a vida. Você, caro leitor, pode fazer muito.
Disponível:
http://www.portaldafamilia.org/artigos/artigo311.shtml. Acesso: 12/11/12.
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