quarta-feira, 6 de dezembro de 2017


Amyr Klink: atrás de cada sucesso há um rio de desastres

Em seu novo livro "Não Há Tempo a Perder", o navegador brasileiro relata as dificuldades antes de uma expedição e revela bastidores de sua vida pessoal
Por: BARBARA BIGARELLI

Amyr Klink: Não Há Tempo a Perder (Foto: Divulgação)
"As pessoas nos olham como se fôssemos super-heróis ou tivéssemos qualidades extraordinárias. Não é bem assim. Temos as mesmas dificuldades que qualquer um tem". Amyr Klink, o mais notório navegador brasileiro, quer escrever sobre seus (quase) fracassos, esmiuçar as penúrias e cada dificuldade que encontrou — e encontra — antes de entrar no mar. Quer mostrar que a sua vida não é glamourosa ou idílica como muitos pensam. Em seu novo livro Amyr Klink: Não Há Tempo a Perder, o navegador narra os pequenos acidentes que enfrentou inúmeras vezes antes de embarcar, questões de ordem familiar (como o relacionamento com seu pai) e técnicas que quase o levaram a desistir por tantas vezes. "Atrás de cada sucesso teve um rio de desastres e problemas", disse em entrevista a Época NEGÓCIOS. "No final das contas, o mais fácil era remar".
Em seus livros anteriores, Amyr narrou suas aventuras pela Antártica (As janelas do Paratii, Paratii: Entre Dois Polos). No best-seller Cem Dias Entre o Céu e o Mar, mostrou as curiosidades da viagem na qual cruzou o Oceano Atlântico, a remo, sozinho. Agora, é a vez de Amyr abordar, sobretudo, a questão do tempo, a partir de uma compreensão conquistada pela experiência. "Eu tenho uma angústia terrível, porque meus projetos demoram muito tempo para acontecer. Sempre tive que correr contra o tempo e acabei percebendo que o tempo é cruel: se você perdeu um dia, não vai recuperá-lo nunca mais".

A angústia torna-se ainda maior para o navegador por causa da mentalidade que, segundo ele, impera no Brasil. "É um país onde todo mundo dá palpite, todo mundo fala, mas ninguém executa nada". Durante toda sua carreira, Amyr precisou convencer clientes para quem construía barcos de que o mais barato custa caro no longo prazo. Que o "meia boca" e o "vamo que vamo" não funcionam. "No mar, se eu ceder à tentação de fazer mais ou menos, vou morrer".

Um dos episódios narrados mostra que, por muito pouco, Amyr não conseguiu embarcar em sua viagem mais famosa, a de remo que partiu da Namíbia para o Brasil. "Tivemos pequenos acidentes que poderiam ter impedido a viagem. A minha saída do Brasil foi estrambólica. Deu tudo errado. Atrasaram a documentação, guias, comidas. Eu quase fui preso no Aeroporto de Congonhas", diz. 
O relato de bastidores, como Amyr descreve seu novo livro, também revela os anseios pelos quais passou durante o vestibular de economia na USP, como se encantou pelo remo nos treinos na raia da Cidade Universitária e até os preparativos exigidos em cada uma de suas viagens à Antártica - para onde foi mais de 40 vezes em 25 anos. "Sem nenhum acidente", orgulha-se. Entre as histórias, é possível analisar como Amyr navega em meio a tantas burocracias, novas regulamentações e legislações incertas. As dificuldades também perpassam histórias de sua infância, com uma relação conturbada com seu pai. 
Amyr Klink rema no I.A.T, em trajeto da travessia que cruzou o Atlântico Sul (Foto: Divulgação)Marina em Paraty
A entrevista para comentar do novo livro também é uma oportunidade para Amyr defender causas que, inerentes a seu dia a dia por tantos anos, nunca passam batido em um encontro com ele. "Temos uma deficiência de mão de obra no Brasil, de infraestrutura, cultural. O empresário brasileiro vive no modo de sobrevivência o tempo inteiro. Não consegue pensar de maneira estratégica ou em excelência". Esse problema, segundo ele, reflete-se na falta de técnicos em várias áreas e é intensificado por uma visão de que só a universidade e o diploma fazem alguém ser alguém. "Você pega uma menina francesa de 19 anos. Ela conhece princípios de engenharia naval, solda, esmerilha, fresa, lâmina em fibra ou carbono, desmonta motor de popa. Um mecânico brasileiro não sabe isso". Na Suíça, onde trabalhou por muitos anos, Amyr diz que 80% dos jovens optam por fazer ensino técnico antes de escolher qual universidade cursar.

Por isso, Amyr acabou formando em sua marina uma espécie de escola informal, com estrangeiros e moradores de Parati (RJ) que aparecem por ali cada um com seu motivo. Um de seus funcionários mais famosos é o Alemão, que "faz milagres" ao resolver os problemas de motores de embarcações envoltos a ferrugens. A escola informal também reúne eletricistas que reinventam circuitos elétricos quando panes aparecem ou pintores que aprenderam a realizar um trabalho que evita o acúmulo de cracas sem fazer uso de uma tinta danosa ao meio ambiente. A média salarial dos funcionários, segundo o navegador, supera o salário de um gerente de banco. No dia a dia com a equipe, Amyr gosta é de "questionar os sistemas e desenhar as soluções mais simples". 
Outra questão que aflige o navegador é a falta de incentivo à indústria de charter para fomentar o aluguel de embarcações para finalidades turísticas. "O Brasil é o único país onde o turismo é importante no PIB e não tem atividade de afretamento. O governo não sabe o que é e o ministro do Turismo não tem nem ideia. Eles não sabem que uma cidadezinha como Palma de Maiorca, na Espanha, fatura por ano em charter 1,5 vez mais do que todo o setor turístico brasileiro", afirma.

O Rio de Janeiro tem espaço para "10 Palmas de Maiorca" e só Parati poderia gerar R$ 50 bilhões por ano em afretamento, segundo os cálculos do navegador. Essa indústria não se desenvolve por falta de legislação clara e pela exigência da Marinha brasileira de que todo capitão e membro da tripulação tenha carteira mercante [sete anos de formação profissional]."Sempre me perguntam: o que ocorre com os brasileiros? Eles não gostam de ganhar dinheiro? Por que precisam ficar vendendo minério ou fazendo Samarcos da vida?", questiona o navegador.

domingo, 3 de dezembro de 2017

Como Gramsci pode te ajudar a conquistar o mundo através do consenso

27/04/2017 - 12H04/ atualizado 16H0404 / por Júlio Viana*
  (Foto: Flickr/thierry ehrmann)
O filósofo italiano Antônio Gramsci é amplamente conhecido por mostrar como a cultura influencia importantes mudanças na sociedade. Depois de passar oito anos na prisão por causa de sua luta contra o fascismo na Itália, Gramsci morreu no ano de 1937, aos 46 anos de idade, extremamente doente.
Sua vida inteira, porém, foi sempre constituída de lutas. Quando jovem, estudou letras na Universidade de Turim e, a partir daí, começou a se interessar por política. Tornou-se jornalista e escritor notável. Suas ideias o levaram a fundar o primeiro partido comunista da Itália, pelo qual foi eleito em 1924.
Gramsci viu seu país cair nas mãos de Mussolini e, justamente, por sua oposição ao ditador foi detido em 1926. Durante os anos como prisioneiro político, ele compôs sua principal obra: os Cadernos do Cárcere. Neles, Gramsci condensou a maior parte de suas ideias, que abrangem desde a teoria política até conceitos sobre filosfia e educação.
Muito além de palavras como hegemonia cultural e revolução passiva, o filósofo apresentou conceitos que, mesmo tendo sido elaboradas no início do século 19, nos ajudam a entender como a sociedade funciona e, principalmente, como podemos mudá-la.
Conheça um pouco das ideias de Gramsci nesse guia que a GALILEU preparou com a ajuda do professor de teoria política da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Marco Aurélio Nogueira, que também colaborou com a tradução dos Cadernos do Cárcere aqui no Brasil. O Dicionário Gramsciano, organizado por Guido Liguori e Pasquale Voza, publicado pela Boitempo Editorial, também serviu como base.
A Hegemonia Cultural
“Hegemonia” é uma palavra grega que, em resumo, significa “dominação”. No início, o termo era utilizado apenas no sentido militar, para designar a dominação feita à força de um povo sobre outro. Com Gramsci, porém, a coisa muda de figura e adquire um caráter muito mais amplo.
A hegemonia cultural ocorre quando um grupo ou um conjunto de grupos da sociedade organizados em associações ou partidos conseguem exercer influência o suficiente sobre outras pessoas a ponto de direcioná-las. A natureza dessa influência, porém, não é nem um pouco física, mas sim de ordem moral e intelectual.
Não pense, no entanto, em “polícia do pensamento” ou “ministério da verdade”. Apesar das ideias de repressão imaginadas por George Orwell, em seu livro 1984, serem exemplos de extrema dominação cultural, elas não representam em nada as ideias de Gramsci. Para o filósofo, a conquista da dominação deve ser feita no sentido do consentimento e da busca do convencimento, não da manipulação.
Gramsci foi um combativo e intransigente antifascista. Não admitia que a vida das massas pudesse ser controlada, como pretendia o regime de Mussolini com o propósito de realizar uma grande transformação na natureza humana e na vida associada. Para o filósofo marxista, trata-se precisamente do contrário, ou seja, de estimular as pessoas a viverem criativamente e a agirem como protagonistas.
“Sua marca distinta é a de ter insistido bastante no fato de que a boa política — a política democrática e aberta à participação social — é aquela que consegue criar uma ponte de interlocução com o povo e até com os adversários. Que é preciso dar elementos de caráter intelectual e cultural para que as pessoas formem de maneira autônoma as suas próprias convicções”, explica Marco Aurélio.
Todos os homens são intelectuais, mas nem todos exercem essa função
Gramsci considera que a filosofia, a arte, a poesia, a linguagem, a política e toda atividade produzida no âmbito da mente humana são, diferentemente do que muitos pensam, práticas as quais qualquer um pode se dedicar. Afinal, todos nós pensamos e, portanto, somos capazes de desenvolver ideias.
A diferença é que algumas pessoas tem a função específica de trabalhar com ideias, elaborando-as e produzindo-as. Esse ofício, porém, não está limitado apenas a professores, escritores ou artistas, mas também envolve médicos, engenheiros ou qualquer outra profissão em que a racionalização seja necessária.
Como explica Marco Aurélio, essas pessoas são as responsáveis diretas por produzirem e disseminarem a informação e, consequentemente, têm impacto direto em qualquer disputa por hegemonia cultural que esteja acontecendo dentro de uma sociedade.
Gramsci joga luz, portanto, sobre a importância dos “produtores de conteúdo” possuírem consciência das mensagens que transmitem para o mundo. São elas, afinal, que permitem as mudanças que desejamos que ocorram.
Linguagem é poder
Se todos os homens são intelectuais, sua principal ferramenta é, portanto, a língua. É com ela que ele é capaz de transmitir suas ideias e sentimentos para o mundo. A linguagem não é só essencial para fazer-se entender perante o mundo como, mais importante ainda, é fundamental para que tenhamos capacidade de nos entender.
É por isso que, para Gramsci, um léxico claro e preciso era uma das maiores armas na luta pela hegemonia cultural. Linguista de formação, o filósofo dedicou grande parte das páginas de seus Cadernos do Cárcere para produzir e desenvolver um vocabulário certeiro das áreas da política, economia e filosofia.
“Uma das preocupações de Gramsci é fazer com a que a linguagem filosófica, política, econômica, seja traduzida para o meio comum e para os diversos ambientes sociais. Para ele, é preciso fazer uma adaptação, fazer uma tradução para que as pessoas que não são especialistas possam se apropriar dos conceitos e das perspectivas teóricas”, explica Marco Aurélio.
Para entender melhor as ideias do autor, Marco Aurélio recomenda a leitura dos livros Gramsci: um estudo sobre seu pensamento político, de Carlos Nelson Coutinho, e Modernidades Alternativas de Giuseppe Vacca. Além dele, o Dicionário Gramsciano compila todos os verbetes já utilizados pelo filósofo.
(*Com supervisão de Nathan Fernandes)

O maior segredo para o sucesso? Reserve 10 horas por semana para pensar

Você sabia que o megainvestidor e bilionário Warren Buffet gasta 80% de seu tempo apenas pensando e refletindo?
28/12/2016 - 12h40 - Atualizada às 12h40 - POR ÉPOCA NEGÓCIOS ONLINE


Café (Foto: EFE)
Você provavelmente já ouviu falar de Elon Musk ou Jeff Immelt (CEO lendário da General Eletric). Talvez tenha lido alguma matéria que discorria sobre a forma como eles tocam seus negócios e, em muitos casos, como dormem pouco e gastam muito tempo no trabalho e pouco com suas famílias. Immelt, por exemplo, trabalhou 100 horas ou mais por semana durante toda sua carreira. Mas sacrificar tudo em nome da carreira é de fato a melhor forma de atingir o sucesso? Em artigo publicado na INC., Brian Scudamore, CEO e fundador da O2E Brands, empresa canadense que oferece serviços domésticos, defendeu que há, sim, outra forma de conciliar sucesso profissional — sem sacrificar tudo — e saúde nas relações pessoais. O artigo de Scudamore foi uma resposta a um questionamento publicado na rede social Quora. Lá, a pergunta era: "Quais são os segredos bem-guardados dos executivos de sucesso?"

Para Scudamore, a resposta é: gastar 10 horas por semana apenas para... pensar.

"Você sabia que Warren Buffett gasta 80% de todo o seu tempo de trabalho pensando? Sim, e nós estamos falando do mesmo Warren Buffett que construiu a quarta maior empresa de seu país. Ele não é tão ocupado quanto você é", escreveu Scudamore. Para explicar, ele cita uma frase dita por Charlie Munger, maior parceiro de Buffett no mundo dos negócios. "Ele gasta muito tempo pensando, refletindo. Você olha a agenda e tem lá que na terça-feira está reservado para cortar o cabelo."
A rotina de Buffet pode parecer não muito usual. Na verdade, ele é aquele tipo de pessoa que faz seu próprio caminho, apresentando novas perspectivas e formas de pensar para os outros, analisa Scudamore. É famosa a forma como o bilionário organiza sua rotina: só planeja reuniões na véspera delas. É uma forma de não fechar a agenda, ficando sufocado pela rotina, e estar sempre livre para o que, de fato, interessa.
Ao longo dos anos, grandes CEOs e altos executivos vêm defendendo que dispor de um tempo crítico, para pensar e refletir, é essencial em um mundo cada mais complexo e dinâmico como é o digital. Tim Armstrong, CEO da AOL, por exemplo, faz seus executivos gastarem 10% de seus dias — ou quatro horas por semana — apenas para pensar. Jeff Weiner, CEO do LinkedIn, reserva duas horas (sem interrupções) de sua agenda do dia para refletir. Jack Dorsey, do Twitter, é famoso por suas divagações, enquanto Bill Gates tira uma semana inteira, duas vezes ao ano, apenas para refletir profundamente sobre seus negócios e carreira — sem interrupções, ok?

Brian Scudamore diz que no comando de sua empresa, que vale US$ 250 milhões, seu dia a dia inclui as segundas-feiras livres para pensar. "Isso me permite programar com uma precisão cirúrgica cada tarefa do restante da semana", disse. "E eu realmente acho que, independentemente do tamanho ou tipo de seu negócio, você pode arranjar sempre tempo para isso." No artigo, ele explica como reserva esse tempo e, de fato, gasta essas dez horas para pensar:
Passo 1: deixe reservado na agenda
As pessoas estão realmente ocupadas ou apenas ordenando prioridades? O primeiro passo para encontrar tempo é fazer com que "o tempo para pensar" seja o que controle a sua agenda. Deixe as pessoas saberem que você não responderá e-mails naquela hora determinada, ou não atenderá ligações em um dia em particular — a menos que seja uma emergência.
Passo 2: não vá ao escritório 
Brian Scudamore defende que as melhores ideias não surgem dentro do escritório. Ele afirma que gasta boa parte de seu "tempo para pensar" andando pelas ruas de Vancouver, onde sua empresa é sediada. Ele escolhe os locais a que vai de acordo com o tipo de pensamento que precisa ter. Em uma segunda-feira típica, pode ir a até seis cafés diferentes, andar na floresta, de bicicleta, apenas passar um tempo na praia, sentar em um banco de praça — ou em alguns casos, desfrutar de uma taça de vinho. Toda vez que se sentem um pouco paralisado, troca de lugar.
Passo 3: faça anotações
Uma forma poderosa, segundo Scudamore, de captar as ideias e transformá-las em algo organizado é escrever. Mas a chave para que isso dê certo é não ser censor de si mesmo. Não julgue seus pensamentos, escreva sem tom crítico. "Há várias maneiras de fazer isso. Eu, por exemplo, sou uma pessoa muito visual. Meu notebook está cheio de imagens, palavras e setas. Encontre o que funciona melhor para você."
Passo 4: aproveite o tempo que reflete para reorganizar reuniões 
Em suas "segundas-feiras reflexivas", Scudamore tira 15 minutos para revisar reuniões, ver o que está marcado para sua semana e comparar o que é prioridade e o que não é. Se uma reunião não tem uma prioridade alta, ele pede para seu assistente reagendar ou cancelar.
Passo 5: reduza sua "to-do list" da semana
Sabe aquela lista que você faz ordenando as tarefas a serem realizadas durante a semana? Reveja e refaça sempre, a medida que os dias vão passando. Veja o que é, de fato, uma prioridade.
Passo 6: identifique seus 3 principais resultados
Estabelecer metas para semana e o trabalho é importante. Mas, mais do que isso: busque mensurar o que trouxe resultado e o impacto de suas ações no trabalho. Isso ajudará a reorganizar sua lista de tarefas e definir prioridades. Se você perceber que não está dando certo, o seu "tempo para pensar" se torna ainda mais necessário.
Passo 7: use perguntas para estimular uma reflexão profunda 
"Eu estou fazendo as coisas certas ao lado das pessoas certas?
"O que é mais importante? No que eu sou bom?"
"Em quais tarefas eu sou ruim?"
"Como eu posso gastar mais tempo fazendo o que eu sou bom?"
"Como eu posso gastar menos tempo fazendo o que sou ruim?"

Ayn Rand e o futuro do Brasil

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Giuliano Miotto

Há muito tempo que as principais notícias que vemos diariamente nos meios de comunicação tratam de (a) algum desvio de dinheiro público ou (b) alguém que foi preso ou que está sendo investigado por crimes como lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva, prevaricação ou outras transgressões relacionadas. Chega a dar nojo a falta de respeito com que os políticos tratam o dinheiro do pagador de impostos no Brasil, sem falar da indignação que gera a forma como eles fingem não ter nada a ver com isso.
Para piorar a situação, constatamos que os principais grupos empresariais erigidos na última década no Brasil (os conhecidos campeões nacionais), também estão envolvidos, de modo visceral, com todo esse sistema corrupto; e que só cresce e se dá bem quem tem bons contatos em Brasília, acesso a dinheiro subsidiado do BNDES ou algum tipo de benesse legal. Toda essa maneira absurda de interagir com a coisa pública e a busca de diversos grupos de interesse por um lugar ao sol, obviamente tem suas origens em determinada forma de se ver o mundo e se estende para as mais diversas áreas da nossa vida em sociedade, especialmente, nos sistemas político, educacional e judicial. É certo que existe corrupção e pessoas ruins em todos os países, e em todos os sistemas, e a possibilidade da corrupção é algo inerente à natureza humana, mas o Brasil tem sido pródigo em escândalos e na multiplicação de corruptos.
Adotando-se as premissas da teoria geral dos sistemas sociais, de N. Luhman[1], em que o elemento central é a comunicação e a interação entre indivíduos inseridos em um sistema social autopoiético (fechado), os elementos que sustentam a ordem vigente são produzidos e reproduzidos por todos que estão dentro da cúpula fechada, formando uma espécie de círculo vicioso de pensamentos e premissas sociais, que influenciam de forma bastante contundente os rumos da política, da educação e a forma como as pessoas percebem e esperam que seja alcançada a justiça.
Neste sentido, nosso sistema social tem sido um reprodutor de condutas antiéticas e focadas na busca de vantagens pessoais a qualquer custo. Nossa Constituição, dita “cidadã”, estabeleceu dezenas de direitos e garantias fundamentais (e outras dezenas de direitos sociais), isto é, cheia de “boas intenções” baseadas nas ideias socialistas e coletivistas de que o Estado tem a obrigação de ser o vetor e o promotor da chamada “justiça social”. De um lado, boa parte dos empresários acaba não tendo oportunidade de atuar virtuosamente, gerando valor para a sociedade, mas sempre buscando formas de conseguir benefícios, facilidades e apoio de políticos e gestores públicos (corporativismo). De outro lado, políticos e gestores públicos fazem uso perverso das instituições, do dinheiro público, retirado de maneira forçada do bolso do pagador de impostos e contam com o apoio irrestrito desses mesmo empresários, para se perpetuar no poder e continuar criando dificuldades para vender facilidades. Trata-se de um ciclo vicioso do qual poucos conseguem escapar ilesos.
Enfim, são a encarnação daquilo que foi expresso por Ayn Rand na sua famosa frase que diz: “Quando você perceber que, para produzir, precisa obter a autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você; quando perceber que a corrupção é recompensada, e a honestidade se converte em autossacrifício; então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada.” Tudo formatado para que não haja espaço para uma ética objetivista, mas sempre uma ética altamente subjetiva e baseada nos caprichos de um “deus” chamado sociedade.
Junte-se a isso um sistema educacional altamente controlado por esse Estado corrupto e comprometido moralmente, e a organização social dos extratos mais pobres de nossa sociedade que vive imersa na cultura de dependência do Estado assistencialista: as pessoas que a compõem sequer imaginam os enormes custos pessoais, para não falar dos sacrifícios necessários para a manutenção do SUS, da educação pública, universal e “gratuita”, bem como das diversas outras bolsas e benefícios legais. No final das contas, os políticos e seus empresários de estimação são os únicos beneficiados de fato desse perverso ciclo de dependência a que são submetidas as pessoas mais pobres.
Nas épocas de eleição essas pessoas pobres acabam por vender seu voto, único instrumento de barganha de que dispõem, para conseguir uma pequena esmola: seja o pagamento de uma conta, a entrega de algum material de construção, a promessa de uma casa ou lote popular ou o próprio valor em dinheiro.
Já faz cerca de 60 anos que Ayn Rand escreveu uma de suas mais importantes obras, A Revolta de Atlas, em que tentou traçar elementos objetivos para se abordar a ética e a moral, encarnando em seu personagem principal, John Galt, uma espécie de anti-herói, totalmente avesso à ética altruísta, ao coletivismo forçado e ao autossacrifício que têm sido o discurso utilizado por políticos, intelectuais e empresários que sustentam sistemas como o nosso, de viés socialista (coletivista).  Poucos anos mais tarde, Ayn Rand reuniu alguns ensaios que haviam sido objeto de palestras ou publicados no The Objectivist Newsletter e disso surgiu o livro A Virtude do Egoísmo, em que buscou explicar o seu código moral – o egoísmo racional.
A ética altruísta consiste em um código de moralidade em que a base do que é bom ou mau depende do destinatário da ação, e não da ação em si mesma (que é apreendida de modo objetivo e racional pelo agente), o que leva à criação de uma sociedade perdida que não reconhece os verdadeiros homens bons e virtuosos.
O que acontece hoje no Brasil e na maioria dos países que adotam esses pressupostos, é que nos tornamos uma sociedade fraca, indolente e incapaz de enfrentar de forma altiva os principais problemas e desafios que se avolumam a cada década. É fato que a humanidade, de modo geral, tem sido constantemente assolada por repetidos períodos de crise moral e que o período em que vivemos, talvez, seja o que registre a pior delas. A crise moral aprofunda-se ainda mais por causa da superficialidade com que as pessoas interpretam as coisas e emitem suas opiniões ou posicionamentos políticos. É curioso nos orgulhamos de viver na era da informação, de termos as legislações de proteção social e de promoção da igualdade mais “modernas”, quando, paradoxalmente, enfrentamos tantos problemas estruturais e conjunturais? Precisamos buscar uma possível solução para isso. E o presente ensaio visa demonstrar como a ética objetivista pode, sim, promover uma verdadeira revolução cultural, em que os indivíduos podem passar a enxergar melhor o seu papel na sociedade e, mais do que isso, exigir uma drástica diminuição do Estado protetor que, na verdade, nada protege.
Ayn Rand começa seu livro a Virtude do Egoísmo fazendo, dentre outras, as seguintes perguntas: porque a humanidade precisa de um código de valores? Devemos terceirizar a ética (como agir frente às situações) para sentimentos, costumes ou convenções sociais ou seria melhor buscarmos as respostas na razão? Quando observamos os principais fundamentos éticos e morais que sinalizam como deveríamos nos comportar, podemos buscar validá-los recorrendo a um ser transcendental e místico, ao qual convencionamos chamar de Deus, ou podemos baseá-los noutro elemento bastante subjetivo que decidimos dar o nome de “bem comum” ou de “sociedade”.
Como grande parte dos teóricos de esquerda ou socialistas rejeitam a existência de um “Deus” único, sábio e perfeito em seus atributos, do qual emanaria todas as regras morais, eles passaram a encher nossas mentes com uma ideologia que denuncia todos os males do mundo -a pobreza, a desigualdade, a infelicidade, a falta de solidariedade, etc - como frutos da natureza egoísta do homem. Elegeram o que chamam de “capitalismo” como a besta destruidora de sonhos e, não satisfeitos em negar qualquer tipo de nobreza na busca de satisfação individual e de lucro, passaram a propor um sistema político e social onde o “deus” Estado passa a ser o provedor de tudo o que é bom, perfeito e agradável. Assim, o Estado, como a igreja do “deus” sociedade, passou a ser a régua e a fonte de validação de tudo o que devemos perseguir enquanto humanidade caída e pecadora.
Quando consideramos que as premissas do parágrafo anterior permeiam nosso sistema educacional e, portanto, moldam a formação de todas as gerações, a situação torna-se apavorante e calamitosa. A formação educacional de um homem precisa estimulá-lo a pensar  pelo uso de sua mente, de forma racional, de modo que ele possa questionar toda e qualquer interação com as mais diversas fontes de conhecimento que o circundam. Uma pessoa precisa aprender, antes de tudo, (a) discernir o verdadeiro do falso através da ferramenta que valida seus conceitos (a mente) e, não menos importante, (b) assumir a responsabilidade por suas ações e pela sua existência.
Isto é algo desestimulado no atual sistema político, educacional e judicial. Vivemos em um sistema em que a culpa sempre é de pessoas, grupos ou fatores externos a nós, um subjetivismo absurdo que faz com que o “povo” sempre busque heróis, semideuses, mitos ou líderes que possam conduzir as coisas, na mesma proporção em que buscam culpados por sua condição miserável. Nunca olhando para si, mas sempre atribuindo toda sua amargura a demônios e potestades malignas criados pela retórica socialista. Assim, odeia-se o empreendedor, o livre mercado, o liberal, quem diz a verdade, etc. Com isso, busca-se também um tipo de “justiça” social, ou punição, contra aquele que ousa desenvolver alguma ideia, empreender ou crescer dentro do sistema.
Isso faz com que um industrial ou um comerciante que busca ganhar dinheiro com sua invenção ou trabalho árduo seja visto com o mesmo desprezo com que tratamos um estelionatário ou ladrão. Pois a busca pela glória, pela autossatisfação pessoal, é tratada como um pecado mortal que precisa ser combatido a qualquer custo. Nada mais oportuno nesse sistema perverso que os políticos sejam os heróis do povo, imbuídos da tarefa asquerosa de retirar o sangue desses animais egoístas e sem compromisso com as pessoas sofridas da nação. Esse tipo de pessoa vai atrás de qualquer condutor ou feitor que lhes prometa um mundo melhor e facilidades para que não tenham que se esforçar demasiado para sobreviver no mundo. Isso é um grande engodo promovido por um tipo de pensamento dominante nesta era, o qual, inclusive, foi denunciado por F. A. Hayek em seu livro O Caminho da Servidão, também foi desmentido por Mises no livro As Seis Lições e por inúmeros outros autores e pensadores, especialmente aqueles ligados à ética objetivista ou à escola austríaca.
Outro grande problema é a adoção, em larga escala, no nosso sistema educacional, de princípios da “pedagogia do oprimido”, conforme proposto por Paulo Freire, a qual, embora se proponha a fomentar um suposto pensamento crítico nas crianças e jovens, na verdade, retira toda a base sólida da realidade dos indivíduos, criando o espantalho de uma inexistente guerra de classes (entre burgueses e operários, oprimidos e opressores), fomentando um criticismo destrutivo dos valores mais importantes para a sobrevivência da humanidade e criando uma geração mimada, pedante e altamente sensível a críticas verdadeiras e fundamentadas.
Este, infelizmente, é o retrato do Brasil atual.  Um país onde, como diria F. Bastiat, teve todas as suas leis pervertidas em seus objetivos, em consequência todos os poderes de polícia também foram pervertidos e distanciados da realidade, como isso “a lei transformada em instrumento de qualquer tipo de ambição, ao invés de ser usada como freio para reprimi-la! A lei servindo à iniqüidade, em vez de, como deveria ser sua função, puni-la!”[2].
Diante de um cenário tão devastador, precisamos resgatar os valores inerentes à existência humana e ao cultivo de virtudes, ao invés de fomentar pedintes. Adotando-se a premissa de que um valor é aquilo que move nossa ação [para a manutenção da vida] e que a virtude é o meio pelo qual ganhamos ou mantemos as coisas. Neste sentido, para a ética objetivista, três valores são fundamentais, quais sejam: 1) razão, 2) propósito e 3) autoestima. Sendo que as três virtudes correspondentes são: 1) racionalidade; 2) produtividade e 3) orgulho. É bastante óbvio que essas virtudes estão ausentes em boa parte dos brasileiros, sendo que a racionalidade poderia nos impedir de sermos enganados e seduzidos por políticos populistas, a produtividade nos tornaria mais ricos e mais valorizados pelos detentores do capital, e o orgulho acabaria com essa síndrome de vira-latas que é característica da nossa cultura.
De acordo com Ayn Rand, um homem racional deve sempre buscar que seu trabalho seja produtivo, gerando valor para o indivíduo e, consequentemente, para a economia, não esperando receber pelo imerecido (com base em fatores subjetivos), mas com base naquilo que ele, de fato, oferece aos seus semelhantes. Como ele tem consciência de sua utilidade e de seu valor, obviamente ele sente orgulho de sim mesmo e sua autoestima está diretamente ligada à sua percepção de que sua vida tem valor. Essa autopercepção de valor é algo fundamental para que possamos sair desse sistema nefasto, de cartas marcadas e cheio de conceitos errados, em que impera a cultura vitimista.
Por fim, se o bem é tudo que desejamos (como sociedade e indivíduos particulares), em tese, só precisamos estabelecer racionalmente o que é justo e moral e daí seguirmos. Uma nação em que os conceitos de bondade e de moral não estão firmados em valores objetivos e suas virtudes correspondentes não tem como prosperar. Acredito que somente a ética objetivista possui os elementos necessários para quebrar todos esses paradigmas perversos que têm escravizado o Brasil desde a sua descoberta em 1500.
Afinal de contas, precisamos descobrir quem é John Galt.

[1] LUHMANN, Niklas (2005). A Realidade dos Meios de Comunicação. [S.l.]. São Paulo: Paulus.
2] BASTIAT, Frederic. A Lei.

sábado, 2 de dezembro de 2017

Benoît Hamon, o emergente socialista francês que quer impostos dos robôs

Vencedor do primeiro turno das primárias socialistas sempre esteve na ala crítica do partido

Até domingo, Benoît Hamon, de 49 anos, era um político permanentemente insatisfeito dentro do Partido Socialista francês, no qual milita desde os 19. Sempre na ala crítica, apenas dois meses depois de firmar duas moções de censura contra seu primeiro-ministro Manuel Valls, ele se transformou em seu único rival para ser o candidato da esquerda ao Eliseu, depois de vencer o primeiro turno das primárias. “É o primeiro tijolo para reconstruir a esquerda”, afirma.
Também desta vez tudo indicava que Hamon ficaria na oposição. As pesquisas coincidiam em que seria o terceiro homem na corrida, depois de Valls e do ex-ministro Arnaud Montebourg, também da ala esquerda do partido. A história dos três seguiu um caminho político coincidente durante muitos anos. Foram aliados-chave. Algumas vezes, o chefe era Valls. Em outras, Montebourg. Hamon, nunca. Até domingo.
Ex-ministro da Economia Social e da Educação entre 2012 e 2014, Hamon conseguiu este triunfo inicial com um discurso duro, anticapitalista, próximo daqueles dos dirigentes antissistema. Fala com frequência sobre a “tensão entre o povo e as elites” ou a confusão entre lobbies e Governos, e abomina o culto sagrado ao crescimento sem fim.
“O crescimento do PIB é uma convenção, mas a riqueza não reflete o bem-estar, o nível de desenvolvimento, as desigualdades... A corrida permanente pelo consumo nos leva à catástrofe. O crescimento permanente é um mito. Por ele sacrificamos nossos direitos sociais e nossos recursos naturais.”
O “ecossocialista” ou “ecologista social”, como se define, tem pouco a ver com seu antigo aliado, Valls, que se qualifica como “reformista social”. A medida de destaque agora defendida por Hamon consiste em estabelecer um salário social universal de pelo menos 600 euros (2.040 reais) para os maiores de 25 anos. “De onde vai sair esse dinheiro?”, lhe cutucaram seus rivais nas primárias. “Do mesmo lugar de onde saíram os 40 bilhões que este Governo deu às empresas”, respondeu.

O programa de Hamon

  • Salário social universal. Dar pelo menos 600 euros para os maiores de 18 anos. Mais em frente, 750.
  • Reforma trabalhista. Quer revogá-la.
  • Imposto sobre os robôs.
  • Legalização da maconha.
  • Vistos para refugiados.
Mas tem outras opções mais imaginativas. Por exemplo, quer tributar os robôs. “Se uma máquina substitui um homem e cria riqueza, não há motivo algum para que essa riqueza não seja onerada com impostos.”
Protecionista, intervencionista e muito crítico da política europeia, Hamon fez declarações em favor da nacionalização de bancos, abomina a austeridade e é partidário de frear o câmbio livre. Quer dar vistos aos refugiados, quase sem controle, defende legalizar a maconha e a eutanásia e votou “não” em 2005 no referendo sobre a malograda Constituição Europeia.
“Precisamos de uma Europa que defenda mais os cidadãos. É preciso reforçar as fronteiras externas da UE, não a das nações. O déficit vale pouco frente ao risco de Marine Le Pen.”
Filho de um engenheiro e uma secretária, Hamon foi educado em um colégio católico em Finisterre e nunca renunciou a seus princípios religiosos, apesar de estar sempre na ala radical da esquerda. “A religião é uma riqueza”, costuma repetir.
Encaixado em 1992 no dissidente movimento juvenil socialista pilotado por um tal Manuel Valls, Hamon começou a andar de braços dados com a cúpula do PS. Deu um passo-chave ao se integrar ao gabinete de Martine Aubry, então ministra do Trabalho e líder visível do movimento rebelde contra François Hollande nesta legislatura. Aubry se tornou hoje um apoio fundamental de Hamon para o segundo turno das primárias, no dia 29. Os dois atuaram em harmonia nestes anos.
Porta-voz do partido com Aubry como dirigente em 2008, eurodeputado, vereador, conselheiro na região de Paris...., Hamon deu um passo crucial em sua careira quando Hollande o inseriu no Governo como ministro da Economia Social. Concluíram seu ataque em março de 2014, em coordenação com Hollande. Valls ascendeu a primeiro-ministro, Montebourg ficou com a pasta da Economia e Hamon, com a da Educação.
Mas as alianças em política duram pouco. Cinco meses depois, Hollande e Valls afastaram do Executivo Hamon e Montebourg, críticos da “guinada liberal” do presidente e do chefe do Governo.
Desde então, as espadas continuaram erguidas e nestes dias assistimos à batalha decisiva.

Disponível: https://brasil.elpais.com/brasil/2017/01/23/internacional/1485175457_353028.html?rel=mas. Acesso: 01-12-17

Bill Gates se une ao cerco contra o capitalismo dos robôs

Proposta do criador da Microsoft de taxar donos de robôs por empregos que destroem alimenta debate

Robotización del trabajoBenoît Hamon não está sozinho. A proposta do socialista francês de tributar robôs com um imposto para compensar os empregos destruídos pelas máquinas inteligentes está sendo debatido nas últimas semanas com intensidade. E a culpa pelo alvoroço é em parte de Bill Gates. O fundador da Microsoft juntou-se ao movimento do imposto sobre robôs, que até agora parecia território exclusivo de socialistas e sindicalistas. Gates diz que está preocupado com a acumulação de riqueza que a revolução robótica trará. Sua intervenção pode ter sido mais ou menos acertada, mas o interessante é que abriu a porta para explorar o universo fiscal que se aproxima.
É verdade que já faz algum tempo que as previsões falam de um avanço mais ou menos irrefreável dos robôs. Que conquistarão fábricas e escritórios deslocando com sua passagem os humanos com direito a férias, licença médica e greves. O World Economic Forum, por exemplo, estima a perda de cinco milhões de postos de trabalho em 15 países em 2020. Também é verdade que, por sua vez, centenas de milhares de postos de trabalho deverão ser criados (850.000 na UE, de acordo com o Parlamento Europeu) para acompanhar a revolução digital. Mesmo assim, não há dúvida de que o impacto será enorme.
As terríveis previsões não são novas. A novidade reside no papel econômico que terão esses trabalhadores mecanizados num ecossistema de trabalho antropocêntrico. E, especialmente, que efeito isso terá sobre a distribuição da riqueza. E, especificamente, se, como defendem alguns, os proprietários dos robôs devem pagar uma taxa que sirva para colocar de pé um sistema de renda básica à finlandesa.
Gates o defendeu assim: “Agora, o trabalhador humano que recebe 50.000 dólares em uma fábrica paga um imposto pelo rendimento do seu trabalho, paga à Seguridade Social e todas essas coisas. Se um robô vem e faz o mesmo, caberia pensar que taxaríamos da mesma forma o robô”. O bilionário da informática parte da premissa de que a robotização nos tornará mais ricos porque permitirá multiplicar a produtividade. Assume, além disso, que a renda excessiva não será distribuída de maneira equitativa e, portanto, os governos serão obrigados a recorrer à tributação para redistribuir, mesmo que seja apenas em parte, os frutos do progresso tecnológico. Os proprietários das máquinas, pensa, serão cada vez mais ricos e os trabalhadores mais pobres, explicou ao portal Quartz.
Se o empresariado paga impostos por ter empregados humanos, deveria fazê-lo por ter máquinas, diz o fundador da Microsoft
A tese de Gates tem alguns seguidores e uma legião de detratores. Surpreendentemente, o diário britânico Financial Times é um dos que lhe deram parcialmente razão em um editorial. Por um lado, o jornal argumenta que não há mais fundamento para taxar um robô do que uma planilha do Excel, uma torradeira ou qualquer outro dispositivo que facilite a vida dos seres humanos. Mas, por outro, considera fundamentada a preocupação de Gates em relação à velocidade com que a automação pode destruir empregos e como será distribuído o maná de uma produtividade alimentada por robôs incansáveis.
Os detratores da taxa argumentam que penalizar fiscalmente a robotização equivaleria a desencorajar a inovação e, portanto, o progresso. Gates considera que uma taxa poderia retardar o salto tecnológico, mas pensa que poderia ser positivo mesmo que isso permita que os mercados de trabalho ganhem tempo para se adaptar à nova realidade.
Yanis Varoufakis, o heterodoxo ex-ministro de Finanças grego, acredita que o magnata e filantropo está equivocado porque, entre outras questões, pensa que seria muito difícil calcular a taxa sobre robôs e pergunta se ela deveria estar sujeita, por exemplo, às flutuações salariais. “Por que tornar a vida no capitalismo mais complicada do que já é? Existe uma alternativa à taxa sobre robôs fácil de implementar e de justificar: a renda básica financiada com os dividendos do capital”, conclui Varoufakis em um artigo publicado recentemente em vários veículos de comunicação internacionais.
A renda básica é precisamente uma das questões que convidava a explorar o relatório do Parlamento Europeu redigido pela luxemburguesa Mady Delvaux e que foi submetido à votação em Estrasburgo no mês passado. O relatório é muito interessante e levanta dilemas jurídicos prementes como quem tem a responsabilidade final pelos danos causados por um robô em caso de acidente ou sobre a proteção dos dados que as máquinas armazenam.
Dois parágrafos foram suprimidos no texto final: um no qual se recomendava “estudar a possibilidade de submeter ao pagamento de impostos o trabalho executado por robôs ou exigir uma taxa pelo o uso e a manutenção de cada robô a fim de manter a coesão social e a prosperidade”; o segundo parágrafo retirado encorajava a analisar “uma possível introdução de uma renda básica mínima”.
O eurodeputado socialista Sergio Gutiérrez Prieto explicou nos corredores de Estrasburgo por que o Parlamento entrou no debate da taxa sobre os robôs: “Precisamos de regras claras para estabelecer relações trabalhistas e modelos de transição para compensar os trabalhadores que perdem seus empregos com a reconversão digital, especialmente os menos qualificados”. “O novo imposto tem de olhar para o mundo digital e se adaptar à nova realidade socioeconômica”, afirmou.
Lawrence Summers, secretário do Tesouro de Bill Clinton, ex-assessor de Barack Obama, catedrático e presidente emérito de Harvard, juntou-se ao coro dos céticos. “Por que criar um imposto que reduz o tamanho do bolo, em vez de garantir que o grande bolo seja distribuído de forma equitativa?”, pergunta. Summers defendeu recentemente receitas alternativas no The Washington Post, como reformas na educação e na formação profissional, subsídios a grupos com problemas específicos de desemprego ou investimentos em infraestruturas.
Nas últimas semanas, a revista The Economist também examinou fórmulas alternativas à tributação robótica, entre elas a luta contra os paraísos fiscais, um imposto sobre a terra e um progressivo sobre a riqueza. A regulação e até mesmo a partição dos monopólios digitais é outra das medidas que a revista considera desejável para evitar o aumento da desigualdade no princípio.
Mas se em algo concordam detratores e defensores da taxa sobre robôs é que os governos devem agir, que o laissez faire já não parece ser uma opção diante do boom de produtividade e rentabilidade que a robotização prenuncia. O debate tornou-se particularmente relevante num momento em que a classe política se deu conta de que os danos colaterais e sociais das mudanças tecnológicas e industriais acabam cobrando seu preço à política e engordando as urnas populistas.

Disponível: https://brasil.elpais.com/brasil/2017/04/05/tecnologia/1491390957_573772.html?rel=mas?rel=mas. Acesso:  02-12-17

Robótica eliminará até 800 milhões de empregos até 2030

Dois participantes observam um robô industrial em uma feira de robótica em Tóquio.

Um relatório destaca que países desenvolvidos serão os mais afetados pela automatização.

Em países em desenvolvimento o impacto será menor devido aos baixos salários

Entre 400 e 800 milhões de pessoas em todo o mundo serão afetadas pela automatização e terão de encontrar uma nova ocupação até 2030, segundo um relatório realizado pela consultoria McKinsey Global Institute.
O impacto das novas tecnologias na vida dos trabalhadores será sentido sobretudo nas economias mais desenvolvidas. Segundo o relatório, até um terço da força de trabalho de Estados Unidos e Alemanha terá de aprender novas habilidades e encontrar outra ocupação. No Japão, a porcentagem de afetados poderá chegar a quase a metade dos trabalhadores.
Os efeitos do fenômeno calculados pela consultoria variam segundo a projeção que se leve em consideração: se a automatização das economias avança a um ritmo intenso ou gradual.
Os responsáveis pelo documento da McKinsey afirmam que os baixos salários no México, por exemplo, levarão a um impacto menos intenso da automatização no país latino-americano: do total de 68 milhões de pessoas que comporão a força de trabalho mexicana em 2030, cerca de 9 milhões serão afetados.
“O México tem uma população jovem e uma força de trabalho que está crescendo. O nível dos salários pode diminuir a implementação da automatização no país”, destaca a consultoria.
A McKinsey analisou o efeito da robotização em 46 economias que representam quase 90% do PIB mundial. Além disso, fez projeções detalhadas do impacto da automatização em seis países: Estados Unidos, China, Alemanha, Japão, México e Índia. A consultoria destaca que os países têm de encontrar formas de realocar os trabalhadores substituídos pela automatização. “Nos cenários em que alguns dos substituídos levam anos para encontrar um novo trabalho, o desemprego cresce em curto e médio prazo. Em longo prazo, se reduz o desemprego e o mercado de trabalho se ajusta, mas com um crescimento menor dos salários”, afirmam.
Além disso, as mudanças tecnológicas atingirão com mais força os trabalhadores com menos estudo. As pessoas com formação universitária e pós-graduação serão menos afetadas. Entre as atividades mais prejudicadas destacadas pela consultoria estão os operadores de máquinas e os funcionários de redes de fast food, além de trabalhadores que fazem coleta e processamento de dados.
“As profissões altamente dependentes das atividades que identificamos como mais suscetíveis à automatização — trabalhos físicos ou processamento de dados — serão provavelmente as mais afetadas”, afirmam os responsáveis pelo relatório. “Ocupações que exigem alto nível de especialização ou uma alta exigência de interação social e emocional serão menos suscetíveis à automatização até 2030”, dizem.
Apesar dos efeitos esperados no mercado de trabalho, os pesquisadores destacam que a inovação, o crescimento econômico adequado e os investimentos podem gerar empregos suficientes para compensar os postos de que serão perdidos pela automatização.

Disponível: https://brasil.elpais.com/brasil/2017/11/30/economia/1512012918_284848.html?id_externo_rsoc=FB_CC. Acesso: 02-12-17

quarta-feira, 22 de novembro de 2017



Filosofia da Linguagem[1]

Como o próprio nome expressa, trata-se do campo de reflexão filosófica sobre a linguagem. Isso quer dizer que sua preocupação não é a mesma da lingüística, pois sua investigação mantém certos vínculos com outras áreas filosóficas, principalmente com a metafísica, a lógica e a epistemologia. Assim, ocupa-se das relações da linguagem com o pensamento, com o conhecimento da verdade e com o mundo.
Exemplos de questões abordadas pela filosofia da linguagem.
O que é significado? O que é signo? O que é uma palavra? Qual é a função da linguagem? Qual é a origem das línguas? Como a linguagem se relaciona com  o mundo? Qual é a relação entre as relações entre as palavras e as coisas? O que é um enunciado verdadeiro? Questões Filosóficas: O que é a linguagem? Como funciona a linguagem? Somos seres naturalmente lingüística? Como se originaram as línguas? Qual é a relação entre as palavras e as coisas?

O Poder da Linguagem[2]
“Basta pensar nas infinitas oportunidades que uma pessoa, um grupo, um pais mudaram de direção e alteraram sua história porque alguém disse o que disse. Da mesma, maneira, reconhecemos que a história (individual ou coletiva) poderia ter sido muito diferente do que foi se alguém tivesse se calado, se não dito o que disse”. (ECHEVERRIA, O Ontología del Lenguaje, p 35; Tradução: COTRIM, Gilberto, FERNANDES, Mirna).
Origem das línguas
Uma das questões mais antigas a respeito da linguagem refere-se a como e quando surgiram as Línguas.
Língua Adâmica
De acordo com a tradição religiosa judaico-cristã, a capacidade de nomear as coisas teria sido conferida a Deus aos seres humanos por intermédio de Adão. Assim, no início dos tempos, haveria apenas uma língua, que todos falavam e por meio da qual se entendiam.
No entanto, conforme a narrativa bíblica, certo dia os homens decidiram construir uma torre tão alta que tocasse o céu, a chamada Torre de Babel. Deus não gostou da prepotência humana e os castigou duramente; de repente, ninguém conseguia mais entender o que o outro dizia. A confusão gerada foi tão grande que a construção de torre teve que ser interrompida, e seus construtores dispensaram-se pelo mundo. Desse modo teria surgido a diversidade dos povos e das línguas (cf, Gênesis, 11. 1-9).
A explicação bíblica é, portanto, a de que todas as línguas teriam surgido de uma só. Trata-se da chamada língua adâmica. A maioria dos lingüistas não acredita na hipótese de que todas as línguas possam ter derivado de uma única fonte, embora grande parte de seus estudos aponte para origens comuns entre diversas línguas.
Grito da Natureza
Outra hipótese conhecida sobre a origem das línguas, mais ao agrado do pensamento cientifico moderno, foi formulada pelo filósofo suíço Jean Jacques Rousseau (1712-1778), inicialmente no “Discurso sobra a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens”e, depois, no “Ensaio sobre a origem das línguas”. Para Rousseau, a primeira forma de linguagem dos seres humanos foi o que ele denominou grito de natureza, usado pelos primeiros humanos em situações de grande perigo ou de muita dor física.
O aumento do contato entre os seres humanos pré-históricos teria suscitado a necessidade de exprimir outros sentimentos. Eles buscam, então, sinais e gestos mais diversificados para expressa-los e multiplicaram as inflexões de voz. Desse modo, a expressão lingüística entre os diversos grupos humanos teria evoluído gradualmente, até constituir formas mais complexas e abstratas de comunicação e da origem as diversas línguas.


[1] CONTRIM, Gilberlto, FERNANDES, Mirna. Fundamentos de Filosofia. ed. Saraiva. São Paulo. 2010. pg. 86.

[2] CONTRIM, Gilberlto, FERNANDES, Mirna. Fundamentos de Filosofia. ed. Saraiva. São Paulo. 2010. pg. 135.

sábado, 5 de janeiro de 2013

A Avaliação Escolar

Infelizmente a tendência é continuar, pois a educação pública brasileira tende a caminhar para um caos devido há estas pseuda-avaliações que esta sendo implementadas, em especial, na educação pública do Estado do Rio Grande do Sul.

E digo mais, tem alguns lideres e pedagogos  que pensam desse modo: "vamos manter a avaliação dos alunos nos níveis mais baixos, isto é, passando de ano todos os alunos de uma serie a outra, assim ficará mais fácil manipular quando adultos".

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Autoajuda marxista

Autoajuda marxista



"Em 4 de dezembro de 2012, a Gazeta do Povo publicou, lado a lado, dois artigos sobre o tema "O legado de Paulo Freire": um, escrito pelo presidente de honra do Instituto Paulo Freire, Prof. Moacir Gadotti; e outro, pelo jornalista, sociólogo e colaborador do ESP José Maria e Silva. O artigo do Prof. Gadotti -- intitulado Patrono da educação brasileira -- está nesse link:http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/conteudo.phtml?id=1324596. O do jornalista José Maria e Silva, intitulado Autoajuda marxista, segue abaixo".
 
“Paulo Freire: Rousseau do século 20.” Quem faz essa afirmação, em um alentado livro de 324 páginas publicado em 2011 na Holanda e que leva justamente esse título, é o indiano Asoke Bhattacharya, professor da Universidade de Calcutá. De fato, Paulo Freire é a versão atual do autor de Emílio, ou Da Educação (1762), que muita influência teve na pedagogia. Mas, como ironiza Émile Durkheim, quem confiaria a educação de uma criança ao desnaturado Rousseau, que abandonou a própria prole?
Essa pergunta cabe em relação a Paulo Freire, que prega a liberdade, mas cultua totalitarismos. Pedagogia do Oprimido, uma espécie de manual de autoajuda marxista, idolatra a “linguagem quase evangélica” do “humilde e amoroso” Che Guevara, enaltece sua “comunhão com o povo” e, valendo-se de um jogo vazio de palavras, justifica as execuções sumárias que ele perpetrava sem piedade: “A revolução é biófila, é criadora de vida, ainda que, para criá-la, seja obrigada a deter vidas que proíbem a vida”.
Essa frase assassina inspira Moacir Gadotti, discípulo predileto do mestre, que, em Pensamento Pedagógico Brasileiro, despreza o grande pedagogo escola-novista Lourenço Filho, mas se rende a Lenin e Mao Tsé-tung. Ambos são tratados por Gadotti como “grandes pedagogos da humanidade”.
Pedagogia do Oprimido, que deu fama mundial a Freire, é menos um tratado que um panfleto. Até seus discípulos são obrigados a reconhecê-lo. Ao observar que Paulo Freire “foi saudado como um dos fundadores da pedagogia crítica”, Bhattacharya observa que isso “não é errado, mas também não é muito preciso”, pois vários filósofos educacionais antes dele foram críticos em relação à pedagogia tradicional. “Portanto, não é a atitude crítica de Freire, mas seu ativismo político que o diferencia de alguns (mas não de todos) os filósofos canônicos educacionais”, diz o professor indiano.
O “Método Paulo Freire”, com mais propaganda que resultados, foi uma ferramenta populista de João Goulart financiada com dinheiro norte-americano do acordo MEC-Usaid. E nem era inédito: o uso de palavras geradoras na alfabetização já estava presente em outras propostas pedagógicas, como o “Método Laubach”, muito disseminado no Brasil. O que Paulo Freire fez foi carregar as palavras de ideologia revolucionária, a pretexto de falar da realidade do aluno. É como se o pedreiro tivesse de se restringir ao tijolo; o lavrador, à enxada; o carpinteiro, ao serrote. O que seria da cultura brasileira se Machado de Assis fosse obrigado, em sua alfabetização, a tartamudear sobre o morro em que nasceu?
O reducionismo pedagógico é o grande legado de Paulo Freire. Juntando-se ao “construtivismo pós-piagetiano”, ele inspirou o “preconceito linguístico”, que vilipendia a norma culta do idioma; a “geografia crítica”, que mistura bairrismo com economia marxista; a história em ação, que eterniza o presente; a matemática étnica, que cria analfabetos em tabuada. Paulo Freire relativizou o conhecimento, anulou a autoridade do professor e, sobretudo, assassinou o mérito – inviabilizando a possibilidade de educação. O ranking global divulgado no fim de novembro que o diga.
José Maria e Silva, jornalista, é mestre em Sociologia.
Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/conteudo.phtml?id=1324597

Disponível: http://www.escolasempartido.org/artigos/371-autoajuda-marxista. Acesso: 02/01/13