Amyr Klink: atrás de cada sucesso há um rio de desastres
Em seu
novo livro "Não Há Tempo a Perder", o navegador brasileiro relata as
dificuldades antes de uma expedição e revela bastidores de sua vida
pessoal
Por: BARBARA BIGARELLI

"As
pessoas nos olham como se fôssemos super-heróis ou tivéssemos
qualidades extraordinárias. Não é bem assim. Temos as mesmas
dificuldades que qualquer um tem". Amyr Klink, o mais notório navegador
brasileiro, quer escrever sobre seus (quase) fracassos, esmiuçar as
penúrias e cada dificuldade que encontrou — e encontra — antes de entrar
no mar. Quer mostrar que a sua vida não é glamourosa ou idílica como
muitos pensam. Em seu novo livro Amyr Klink: Não Há Tempo a Perder,
o navegador narra os pequenos acidentes que enfrentou inúmeras vezes
antes de embarcar, questões de ordem familiar (como o relacionamento com
seu pai) e técnicas que quase o levaram a desistir por tantas vezes.
"Atrás de cada sucesso teve um rio de desastres e problemas", disse em
entrevista a Época NEGÓCIOS. "No final das contas, o mais fácil era
remar".
Em seus livros anteriores, Amyr narrou suas aventuras pela Antártica (As janelas do Paratii, Paratii: Entre Dois Polos). No best-seller Cem Dias Entre o Céu e o Mar, mostrou
as curiosidades da viagem na qual cruzou o Oceano Atlântico, a remo,
sozinho. Agora, é a vez de Amyr abordar, sobretudo, a questão do tempo, a
partir de uma compreensão conquistada pela experiência. "Eu tenho uma
angústia terrível, porque meus projetos demoram muito tempo para
acontecer. Sempre tive que correr contra o tempo e acabei percebendo que
o tempo é cruel: se você perdeu um dia, não vai recuperá-lo nunca
mais".
A angústia torna-se ainda maior para o navegador por causa da mentalidade que, segundo ele, impera no Brasil. "É um país onde todo mundo dá palpite, todo mundo fala, mas ninguém executa nada". Durante toda sua carreira, Amyr precisou convencer clientes para quem construía barcos de que o mais barato custa caro no longo prazo. Que o "meia boca" e o "vamo que vamo" não funcionam. "No mar, se eu ceder à tentação de fazer mais ou menos, vou morrer".
Um dos episódios narrados mostra que, por muito pouco, Amyr não conseguiu embarcar em sua viagem mais famosa, a de remo que partiu da Namíbia para o Brasil. "Tivemos pequenos acidentes que poderiam ter impedido a viagem. A minha saída do Brasil foi estrambólica. Deu tudo errado. Atrasaram a documentação, guias, comidas. Eu quase fui preso no Aeroporto de Congonhas", diz.
A angústia torna-se ainda maior para o navegador por causa da mentalidade que, segundo ele, impera no Brasil. "É um país onde todo mundo dá palpite, todo mundo fala, mas ninguém executa nada". Durante toda sua carreira, Amyr precisou convencer clientes para quem construía barcos de que o mais barato custa caro no longo prazo. Que o "meia boca" e o "vamo que vamo" não funcionam. "No mar, se eu ceder à tentação de fazer mais ou menos, vou morrer".
Um dos episódios narrados mostra que, por muito pouco, Amyr não conseguiu embarcar em sua viagem mais famosa, a de remo que partiu da Namíbia para o Brasil. "Tivemos pequenos acidentes que poderiam ter impedido a viagem. A minha saída do Brasil foi estrambólica. Deu tudo errado. Atrasaram a documentação, guias, comidas. Eu quase fui preso no Aeroporto de Congonhas", diz.
O relato de bastidores, como Amyr descreve seu
novo livro, também revela os anseios pelos quais passou durante o
vestibular de economia na USP, como se encantou pelo remo nos treinos na
raia da Cidade Universitária e até os preparativos exigidos em cada uma
de suas viagens à Antártica - para onde foi mais de 40 vezes em 25 anos.
"Sem nenhum acidente", orgulha-se. Entre as histórias, é possível
analisar como Amyr navega em meio a tantas burocracias, novas
regulamentações e legislações incertas. As dificuldades também perpassam
histórias de sua infância, com uma relação conturbada com seu pai.

A
entrevista para comentar do novo livro também é uma oportunidade para
Amyr defender causas que, inerentes a seu dia a dia por tantos anos,
nunca passam batido em um encontro com ele. "Temos uma deficiência de
mão de obra no Brasil, de infraestrutura, cultural. O empresário
brasileiro vive no modo de sobrevivência o tempo inteiro. Não consegue
pensar de maneira estratégica ou em excelência". Esse problema, segundo
ele, reflete-se na falta de técnicos em várias áreas e é intensificado
por uma visão de que só a universidade e o diploma fazem alguém ser
alguém. "Você pega uma menina francesa de 19 anos. Ela conhece
princípios de engenharia naval, solda, esmerilha, fresa, lâmina em fibra
ou carbono, desmonta motor de popa. Um mecânico brasileiro não sabe
isso". Na Suíça, onde trabalhou por muitos anos, Amyr diz que 80% dos
jovens optam por fazer ensino técnico antes de escolher qual
universidade cursar.
Por isso, Amyr acabou formando em sua marina uma espécie de escola informal, com estrangeiros e moradores de Parati (RJ) que aparecem por ali cada um com seu motivo. Um de seus funcionários mais famosos é o Alemão, que "faz milagres" ao resolver os problemas de motores de embarcações envoltos a ferrugens. A escola informal também reúne eletricistas que reinventam circuitos elétricos quando panes aparecem ou pintores que aprenderam a realizar um trabalho que evita o acúmulo de cracas sem fazer uso de uma tinta danosa ao meio ambiente. A média salarial dos funcionários, segundo o navegador, supera o salário de um gerente de banco. No dia a dia com a equipe, Amyr gosta é de "questionar os sistemas e desenhar as soluções mais simples".
Por isso, Amyr acabou formando em sua marina uma espécie de escola informal, com estrangeiros e moradores de Parati (RJ) que aparecem por ali cada um com seu motivo. Um de seus funcionários mais famosos é o Alemão, que "faz milagres" ao resolver os problemas de motores de embarcações envoltos a ferrugens. A escola informal também reúne eletricistas que reinventam circuitos elétricos quando panes aparecem ou pintores que aprenderam a realizar um trabalho que evita o acúmulo de cracas sem fazer uso de uma tinta danosa ao meio ambiente. A média salarial dos funcionários, segundo o navegador, supera o salário de um gerente de banco. No dia a dia com a equipe, Amyr gosta é de "questionar os sistemas e desenhar as soluções mais simples".
Outra
questão que aflige o navegador é a falta de incentivo à indústria de
charter para fomentar o aluguel de embarcações para finalidades
turísticas. "O Brasil é o único país onde o turismo é importante no PIB e
não tem atividade de afretamento. O governo não sabe o que é e o
ministro do Turismo não tem nem ideia. Eles não sabem que uma
cidadezinha como Palma de Maiorca, na Espanha, fatura por ano em charter
1,5 vez mais do que todo o setor turístico brasileiro", afirma.
O Rio de Janeiro tem espaço para "10 Palmas de Maiorca" e só Parati poderia gerar R$ 50 bilhões por ano em afretamento, segundo os cálculos do navegador. Essa indústria não se desenvolve por falta de legislação clara e pela exigência da Marinha brasileira de que todo capitão e membro da tripulação tenha carteira mercante [sete anos de formação profissional]."Sempre me perguntam: o que ocorre com os brasileiros? Eles não gostam de ganhar dinheiro? Por que precisam ficar vendendo minério ou fazendo Samarcos da vida?", questiona o navegador.
O Rio de Janeiro tem espaço para "10 Palmas de Maiorca" e só Parati poderia gerar R$ 50 bilhões por ano em afretamento, segundo os cálculos do navegador. Essa indústria não se desenvolve por falta de legislação clara e pela exigência da Marinha brasileira de que todo capitão e membro da tripulação tenha carteira mercante [sete anos de formação profissional]."Sempre me perguntam: o que ocorre com os brasileiros? Eles não gostam de ganhar dinheiro? Por que precisam ficar vendendo minério ou fazendo Samarcos da vida?", questiona o navegador.